SEMPRE AO SEU LADO
Vai ser complicado para que me entenda.
Ou talvez seja muito difícil eu explicar, mas vou tentar.
Sou bem diferente, me chamam de irracional.
Talvez porque ainda tenho um pouco de selvagem.
Mas cá entre nós, tenho tanta doçura.
Não ando como você anda, nem penso igual.
Mas dentro da minha selvageria, sou muito leal e fiel.
Tento me comunicar da forma que consigo.
Sei que é muto difícil a compreensão.
E entendo que muitas vezes as pessoas ignoram.
Quando você se ausenta não imagina quanta dor eu sinto.
Eu conto os momentos, as horas, os minutos.
Me passa coisas pela minha cabeça, como você não vai voltar.
Que me deixou, que vou ficar sozinho.
Quem vai jogar a bolinha agora, e o carinho como fica.
Na verdade somos ansiosos por natureza.
Não veja a hora de correr, pular em você.
Cheirar-te e lamber seu rosto, parece que foi uma eternidade.
Algumas horas que ficou ausente.
Lamber seu nariz é uma forma de dizer que te amo.
Pular em você é dizer que senti saudades.
Perdoe-me se te sujei, se deixei minhas pegadas.
Ou se quase te derrubei, é minha forma de se expressar.
Peço perdão pela minha natureza selvagem.
Sou diferente de você tenho quatro patas, tenho rabo.
Não tenho voz, não falo o seu idioma.
Mas sou seu amigo é isso que importa.
Vou te contar um segredo, os meus latidos tem horas que são de saudade.
Tive uma amiguinha que a tutora dele se mudou de cidade.
De vez em quando ela não suportava.
Ia até o portão e chorava, gritando e perguntando.
Cade você? Sinto sua falta! Por que não volta?
Estou te esperando! Volta por favor, volta.
Sua vida se tornou triste as vezes compensadas por aventuras.
Ou pela visitas rápidas da sua tutora.
E no fim do dia seu sentimento de tristeza voltava.
E foi assim até seu último dia.
O tempo pra mim e a minha raça é muito cruel.
Passa muito rápido e não perdoa.
E eu preciso viver esse pouco tempo.
Viver intensamente ao seu lado.
Cada momento, cada dia todo minuto é importante.
Perdoe-me por minhas traquinagens.
Não sei o que é pudor, não tenho vergonha.
Como disse somos irracional.
E assim fazemos coisas sem lógica, sem contexto.
Digamos que a maioria das vezes é nosso instinto.
Não temos a fala dos humanos.
Mas fomos privilegiados com uma audição incrível.
Um olfato poderoso e raramente se esquecemos de um rosto.
Se pudesse falar te contaria tanta coisa.
Teríamos tanto assunto.
Mas sei que me compreende.
E que estou expondo aqui o meu coração a minha alma.
Jamais me abandone, isso é muito cruel.
As vezes nos colocam dentro do carro.
A nossa felicidade é enorme, vamos passear.
Mas depois vem a tristeza.
Somos abandonados em algum lugar remoto.
As vezes sem compaixão, nos deixa como companhia.
Um pouco de água, ração e uma corda.
E ali nos deixam amarrados, indefesos e sozinhos.
A espera, uma longa espera que possa passar alguém.
E nos tire daquelas condições.
Outro dia via um amigo nessa situação.
Foi abandonado em uma rodovia e correu atrás do carro.
Até não suportar mais, não acreditava que seria abandonado.
Demorou para entender que não o queriam mais.
Você consegue sentir essa dor, eu pergunto?
Sei que me entende, que me compreende.
Queria que sentisse o que eu sinto.
Tudo o que temos pelos nossos tutores é amor.
É do nosso jeito, da maneira que conseguimos demonstrar.
Somos limitados e não conseguimos ir além.
Mas você precisa saber que tudo o que temos é amor.
Da forma mais pura ou irracional, mas é amor.
Da maneira bem simples e selvagem.
Sempre que você chegar em casa estarei lá.
Não importa se está chovendo ou não.
Pularei em você da mesma forma.
A minha lealdade ninguém pode questionar.
Morreria no seu lugar se preciso for.
Tudo o que preciso é do teu sorriso.
De vez brincar comigo, jogar a bolinha.
Levar-me para dar uma volta.
Preciso da sua companhia.
Um dia a velhice também vai chegar.
Meus olhos não poderão mais me ajudar.
Meus dentes não serão mais os mesmos.
Vou precisar de uma ração diferente.
Não precisa mais jogar a bolinha.
Perdoa-me porque não vou poder te receber no portão.
Embora eu escute e reconheça até o barulho do carro.
Sinta seu cheiro, não encontro mais o caminho.
Não consigo enxergar mais.
Mas sempre estarei ao seu lado.
Não quero ser uma página virada.
Mas um elo de saudade e recordação.
Meu nome é isso que quer saber, são muitos.
Mel, Gringo, Maria Flor, Lobinho, Totó…
(Claudio Alves de Oliveira)
Sempre ao seu lado.
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