ADÃO
Quando consigo tento parar de pensar, mas tão repentina tudo volta.
As minhas lembranças são muito forte, vive em mim a todo o momento.
A minha vida mudou drasticamente, de um lugar tão alto, eu cai.
Vou contar alguns detalhes da minha vida nestas poucas palavras.
No entanto, ainda me pergunto, quem eu era, que eu fui e quem sou?
Vivi minha vida toda me questionando, como tudo aconteceu.
As razões e o porquês como tudo mudou, porque a queda.
Depois que fui banido, e cheguei na terra, tive que aprender tudo.
Mesmo sendo adulto, me sentia uma criança que precisava aprender a andar, falar, sobreviver.
Sai de um lugar onde existia tudo, fartura de frutas, ervas, hortaliças, era tudo abundante.
Mas na terra onde fui colocado, tudo isso precisava ser semeado, cuidado, cultivado, esperar crescer e frutificar.
O preço que paguei foi extremamente alto, mas era o justo.
Naquele lugar a água era abundante, ela parecia me servir, como os animais, as plantas, as aves.
Ali tinha de tudo, fora de lá era tudo hostil, não existia mais aqueles privilégios, a vida se tornou dura.
A sobrevivência se tornou uma guerra incessante, a vida poderia ser ceifada a qualquer momento por uma fera da terra ou das águas, até do ar.
Carreguei um peso muito grande que só muitos milênios depois que foi tirado da humanidade, depois eu falo o que.
Quando fui colocado na terra ainda não tinha ideia do que era tudo o que meus olhos poderiam ver contemplar, um vasto lugar com muitos animais, alguns muito grandes, imensidão de aves e muito verde, porém escasso de pessoas.
Embora tudo fosse semelhante, o clima era diferente as árvores pareciam agressivas, as águas não se curvavam, as aves não vinham mais em meus braços, os animais se assustavam e demonstravam agressividade, eu era um intruso ali.
Parecia que eu trouxe comigo um mal muito grande e aquela natureza parecia saber que também os afetariam para sempre.
Com o passar do tempo, aprendi a domesticar alguns animais, a plantar, entender o ciclo das chuvas, as estações do ano, a influência da lua nas marés.
Mas eu percebi uma coisa, estava envelhecendo, as doenças eram mais frequentes, minhas forças estavam acabando, o meu vigor estava se deteriorando, minha visão já não era mais a mesma de outrora, estava morrendo sentia isso cada dia mais nítido.
Daquele lugar que sai só recordo das túnicas de pele que nos foi presenteado como uma última ajuda, e agora estávamos por conta própria, as túnicas foram a única coisa que trouxemos e como uma herança as consequências da nossa ingratidão tínhamos o conhecimento do bem e do mal.
Tivemos que nos agarrar a isso era a única coisa que tínhamos no mundo diante de nós, mas engana-se quem acreditou que seria para exploração, nada disso, era sobreviver, a meta era e sempre foi a sobrevivência em um lugar muito hostil.
Mas, muitas vezes procurei pelo caminho onde vivi a imortalidade, andava as margens do Eufrates, sem sucesso, o Tigre, os outros dois rios não encontrei.
Em minhas lembranças ouvi nitidamente que não haveria a mínima possibilidade de voltar, os acessos estavam bem guardados, lembrava de uma espada que se movia sozinha, ela era flamejante foi num relance de olhar que a vi, Querubins só ouvi falar.
Sentia saudades daquele jardim, onde era muito feliz, confesso que quando nasceu nosso primeiro filho esqueci um pouco de tudo, foram momentos muitos bons na terra, apesar das dores da minha esposa, mas abraçar um filho é uma das maiores sensações do ser humano.
Eu senti isso, vivenciei com muita emoção esses momentos que ainda foram mais intensos quando nasceu nosso segundo filho.
Foram dias magníficos, a felicidade era esplêndida até que aquele dia fatídico chegou, roubou de nós a esperança, a força, a fé, a emoção da família fez esquecer o que nossa presença na terra era uma consequência de um grande erro, onde o mal adormecido havia acordado, dentro dos humanos.
Foram dias amargos, aquela dor da mãe não se referia somente ao parto, mas também a perda, ao luto e novamente estávamos sozinhos, depois de matar o irmão ele fugiu e nunca mais nos encontramos.
Nos sentimos culpados aquilo não deveria ter acontecido, se tivéssemos fidelidade em tão pouco o que nos foi pedido, tínhamos tudo ao nosso favor a única proibição era aquele fruto, tão somente aquele.
Muito tempo depois nasceu nosso terceiro filho, preencheu aquele vazio que com muita dor passamos, voltamos a sorrir.
Agora tínhamos outra missão, falhamos na primeira, e diante de nós existia um mundo que precisava de pessoas, de seres humanos e essa agora era a nossa segunda chance, povoar o planeta.
Lamentei muito o fato de ter trazido o mal a esta terra, mas nada poderia fazer para reverter isso, não poderia ser desfeito e convivi com isso até meus últimos momentos.
Sentia que toda a terra pagaria por isso um dia, porque o mal estava se espalhando pelo mundo, começando pelo meu próprio filho, meus últimos dias eu vi, presenciei um avanço gigantesco do mal sobre a terra.
Perguntei-me muitas vezes o que ganhamos com o conhecimento do bem e do mal, só houve perdas e danos e nada mais, daria tudo para desfazer tudo o que fiz, mas deixo este mundo somente com a esperança de um dia isso possa ser desfeito.
Pra você que não me conhece, nunca ouviu falar de mim, sou o primeiro homem que pisou este planeta, que habitou esta terra, sei que tem muitas dúvidas, e provavelmente eu seja culpado por isso, é de propósito que existam tantas incógnitas, também vivi atrás de respostas embora eu a tivesse todas, mas um dia por minha culpa o meu cérebro foi reduzido para apenas uma parte, como se no meus olhos fossem colocados um véu que limitava a visão, o que tínhamos era apenas o necessário para sobreviver, nossa inteligência foi reduzida fui enganado, pois o conhecimento que eu tinha era extremamente superior ao que possuí depois da queda.
A conclusão que tive, do tudo eu troquei por nada.
O conhecimento do bem e do mal é tão inferior, tão pequeno, por muitas vezes foi inútil, quando existe um desiquilíbrio ele sempre tende para o mal, onde um desastre ou uma fatalidade se torna iminente.
O conhecimento que outrora tinha não dependia de estudo, nem de experiências, nem de pesquisas, nem da vida, inexplicável, inalcançável, uma ciência tão alta da qual tinha acesso à boa parte, cataloguei praticamente tudo o que se move, o que voa, o que respira dentro da água, todos os organismos vivos, pedras, elementos o que você pensar que exista nesse planeta dentro e fora dele, as estrelas e outros mundos.
Fora do jardim, conseguia mal reconhecer alguma espécie de planta ou animal, não conhecia nem meu próprio filho, sendo muito sincero não demorei muito pra reconhecer o quanto somos inferiores, seres tão pequenos e completamente dependentes.
Aquele que todos os dias na sua virada me visitava no jardim, deixou de passar por nós, no entanto ainda podia sentir que nos observava, nos protegia, cuidava de nós de alguma forma, em outras palavras jamais nos abandonou, nenhum animal gigantesco, nem homens gigantes interferiram em nosso caminhos, ou nenhum acontecimento natural, atrapalhou nossa jornada.
Conforme o tempo passou minha mente me trazia muitas lembranças do passado de um lugar, de outro patamar, longe dos padrões humanos, de um jardim onde eu vivia, imagens e lembranças tão vivas que pareciam tão reais para o momento, mas me dava conta que era de um passado tão distante, vou te dizer o que mais eu temo, o que mais perturba, essa ideia tira o meu sono.
É que dia menos dia está chegando o dia da minha partida, o dia que voltarei ao pó, uma consequência dos meus atos, faz ideia do que é isso, eu era eterno, eu possuía a eternidade, e agora vou conhecer o Seol o Hades.
Minha única esperança é que um dia todo isso se torne reversível de alguma forma.
Autor:
(Claudio Alves de Oliveira)
Adão
2 comentários:
Interessante reflexão
Deus abençoe imensamente por participar gratidão
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