DE VOLTA AO LAR
Baseado em uma história real
Antes de mais nada quero que saiba que sou um ser irracional.
Não cobre de mim coisas que talvez eu nunca compreenda.
Sou apenas um animal, que precisa sobreviver.
Precisa saber que minhas ações, sãos instintos.
Você precisa saber que não programei nada.
Nenhum dos meu passos foi premeditado.
Só não podia ficar onde estava, precisava voltar.
De alguma forma eu teria que retornar.
Essa é a minha história, me chamavam de “Cholinho”.
Nasci num sítio no final dos anos 70.
E logo comecei as minhas traquinagens.
Adorava os ovos frescos das galinhas.
Expulsava elas dos seus ninhos e aproveitava.
As palhas quentinhas aqueles ovos fresquinhos.
Ficava horas ali, passava a noite naquele ninho.
Pela manhã enfrentava a ira dos meus tutores.
Castigavam-me por isso, mas não adiantava.
Não tinha raciocínio para entender.
E eu repetia aqueles feitos, invadia o galinheiro.
E tomava posse, expulsava a penosa.
Fui castigado muitas vezes, só não entendia por quê.
Meus companheiros de patas não faziam isso.
Muitas vezes saíamos para a caça, atrás de preás, gambás.
Meu instinto era seguir o rastro de um outro animal.
Não é por nada não, fui um grande caçador.
Entrava na toca dos tatus, corria atrás do tamanduá.
Um dia com dois companheiros, atacamos uma cobra.
E ela não foi párea e a deixamos estirada no chão.
Confesso que não era o melhor dos cachorros.
Fazia minhas artes, meu dono viajava.
Ficava três dias fora de casa, ou até mais.
Ele saia do sítio até uma pequena venda.
Um termo usado para mercado.
Ia de bicicleta até lá e a deixava nos fundos desse lugar.
E eu ficava de vigia até ele voltar.
Guardando a sua bike, o dono do mercado o Dito me dava comigo e água.
Porém no sítio não mudei em nada meu comportamento.
E um dia senti que tinha alguma coisa no ar.
Meus donos cansados de mim, tramaram uma conspiração.
Me levaram para a cidade, para morar com um Judeu.
A minha jornada começa a partir deste ponto.
Fui deixado para trás, fiquei amarrado com aquele homem.
Que fez de tudo para que eu fosse feliz.
Mas como eu poderia, longe da minha casa.
A tristeza mais profunda que possa imaginar tomou meu ser.
E passei dias amargos, me recusei a comer a beber.
As vezes dormia pensando que era um sonho.
Que no amanhecer acordaria no sítio, com as crianças.
Com os amigos, fazendo minhas artes.
Naquele lugar na cidade eu não poderia ser feliz.
Aquilo não era lugar para nenhum cachorro.
Então decidi que precisava voltar.
Tomei a decisão e elaborei a minha fuga.
O cheiro do meus donos eu conhecia.
O cheiro forte da gasolina da variante 2 era inconfundível.
Mas era tudo ou nada, só precisava tentar.
Ali eu não poderia ficar, era tudo o que eu pensava.
E num dia aquele homem foi tirar minha corda.
Talvez quisesse demonstrar confiança, fidelidade.
Por semanas esperei por esse momento.
E quando soltou as amarrar eu disse “é agora”.
E comecei a correr sem direção a esmo.
E quando estava longe percebi que o Judeu nem se importou.
Agora era achar o caminho de volta.
Encontrar de novo a felicidade.
A saudade de casa era como uma faca perfurando o coração.
Parecia que minha alma sangrava.
Mas agora nas ruas de Juquiá, meu foco, era seguir o cheiro.
Fui abençoado pelo CRIADOR, com um faro.
E graças a isso, foi o que me ajudou.
Procurando no ar que respirava o caminho para o regresso.
Nesse momento da minha história não pensava com um cachorro.
Talvez meu CRIADOR me transformou naqueles dias.
Depois de rodear a cidade, já sem esperança.
Encontrei algo familiar, uma rodovia.
E ali fiquei por alguns momentos imaginando, me perguntando.
Então observei um veículo grande cheio de pessoas.
Aqueles cores, vinho, com tons de amarelo.
Fioravante, já tinha visto aquilo antes.
Era isso, quando esperava meu dono das suas viagens.
Esse veículo sempre passava na estrada.
Lembrei que aquele mercado ficava na beira da rodovia.
Meu instinto dizia que teria que seguir.
Não lembro quanto tempo andei.
Noite e dia, me alimentava de restos que achava nos lixos.
Água era abundante, meus instintos me guiava.
Precisava estar focado, era uma rodovia muitos carros passavam.
Todo cuidado era pouco, poderia acontecer de nunca mais voltar.
Eu era um ser irracional longe de casa, ninguém se importava.
Se quis desistir, eu diria que sim.
Mas meu instinto falava mais alto.
E imaginava o sítio, a comida, o lugar, um paraíso.
Os amigos, as crianças, as caçadas.
Vivi momentos que a saudade era agoniante.
E uivava, pensando que meus donos poderiam ouvir.
Mas a realidade era bem diferente, estava sozinho e distante.
Um dia percebi que um dos carros que passavam.
Tinha um cheiro que eu já tinha sentido.
Era familiar, próximo ou de alguém que já esteve no sítio.
Meu pequeno ser se encheu de forças e motivação.
E não parei de andar, eu precisava voltar.
Eu queria de volta o meu lar, minha casa.
Eu preciso voltar, eu preciso voltar, precisava voltar.
Isso maquinava minha cabeça, minha mente.
Depois de muitos dias, encontrei um lugar a beira da estrada.
Que o faro detectou um cheiro mais forte.
Um posto de saúde, mais adiante, o cheiro intensificou.
Mas ainda não era o sítio, continuei caminhando pela rodovia.
Depois de caminhar um longo caminho.
Estava muito cansado, com fome, com sede.
Desmoralizado, afinal de contas, fui abandonado.
Deixado pra trás, nada disso importava agora.
Só queria voltar, só queria minha vida de volta.
Meus olhos cansado já sem forças.
Observo em uma curva da estrada umas árvores.
Uma pequena mercearia, logo pensei, já estive aqui.
Lembrei dali, era a venda, onde meu dono deixava a bicicleta, quando viajava.
Corri para os fundos na esperança de encontrar alguma coisa.
Estava tudo vazio, mas o cheiro estava no ar, eu podia sentir.
Meus instintos me falava que estava perto.
Mas agora eu tinha um aliado, conhecia onde estava.
Agora eu tinha certeza que encontraria meu lar.
E depois de muitos dias de angustia.
Dando o meus últimos passos ouvi um grito.
Uma criança gritava: “mãe o Cholinho voltou”.
Não acreditava estava em casa, aqueles eram a minha família.
Aquele era o lugar onde vivi.
Houve uma festa por parte dos humanos a meu respeito.
Olhavam-me sem acreditar com o que eu fiz.
Confesso que estava muito feliz, também sem acreditar.
Que depois de todos aqueles dias, eu consegui.
Então cansado, exausto me deitei e fiquei horas pensando.
Imaginando se não tivesse conseguido, onde estaria agora.
Logo me deram comida, meus companheiros se achegaram.
Conversamos na nossa linguagem, me renderam homenagens.
Deram-me boas vindas e nos abraçamos da nossa forma.
Que dias foram aqueles senhoras e senhores.
Foi perdoado por todas as minhas antigas traquinagens.
Fui muito feliz mesmo, o meu feito se espalhou.
Entre os humanos e acredito que entre os da minha raça também.
Não importa, o que importa é que minha história sirva de motivação.
Acreditar é algo muito forte e que durante a caminhada me agarrei a isso.
Não deixei em nenhum momento o acreditar sair de mim.
Superar, outro ponto essencial, quantos medos eu tive.
Precisei superar todos eles, me alimentava do desejo e da vontade.
De voltar, de estar em casa, com minha família, com os amigos.
E isso me encorajava, fazia desistir das afrontas.
Porque outros cachorros que encontrei queriam briga, mas não aceitei nenhum confronto.
Ignorei tudo o que poderia me atrapalhar, tirar o meu foco.
Estava focado em voltar, em encontrar o caminho de volta.
Meus objetivos era o faro, o cheiro que não podia perder.
Obedeci aos meus instintos de sobrevivência e de animal.
Muitos confessaram que fui vitorioso.
Talvez na minha irracionalidade pedi ajuda ao meu CRIADOR.
Sem sequer saber, mas algo em mim estava conectado a ELE.
Mas, um dia de sol, me deitei na estrada de chão para descansar.
E acabei dormindo, não ouvi o barulho de um caminhão.
Que até fez menção de parar, mas o malvado motorista não parou.
E passou por cima de mim, encerrando os meu dias de gloria.
Berto, foi o meu assassino, e naquele dia deixei de existir.
Mas a minha história continua viva.
Os meus feitos agora publicados, possa servir de inspiração.
De motivação, é uma mensagem de resiliência.
Uma voz nos corações que diz: não desista, não deixe de acreditar.
As noites são frias e escuras, mas precisa seguir em frente.
A fome e a sede te farão pensar em parar e desistir.
A solidão e a distância te trarão medo e pavor, mas precisa ignorá-los.
Precisa manter o foco nos seu objetivos.
Siga em frente, apenas caminhe, caminhe, não pare.
Até ouvir o grito da felicidade.
(Claudio Alves de Oliveira)
De volta ao lar
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