A ÚLTIMA NOITE
Baseado numa história real
Já deve ter ouvido muitas histórias de gatos.
Mas, nunca ouvia a minha.
Esqueça esse negócio de sete vidas.
Só temos uma vida mesmo e conexão com o além.
Esquece isso, só a nossa visão é mais aguçada.
Fomos considerados divindade no passado.
Mas não passamos de um animalzinho.
Que adora carinhos, ser amado pelos humanos.
Em suma, somos criaturas adoráveis, é o que somos.
Vou começar a minha história, então.
Numa noite de verão, foi quando tudo aconteceu.
Minha visão turva uma dor imensa, sentia os efeitos do veneno.
E na minha mente pensava, acabou pra mim, é o fim.
Mas, voltando um pouco, nasci num sítio final dos anos 70.
Minha pelagem totalmente preta, exceto por um detalhe em branco.
E como todo os felinos não dependem muitos dos humanos.
Ainda mais num lugar onde roedores e passarinhos eram a maioria.
Logo depois de me tornar independente aprendi a sobreviver.
No entanto, nunca deixei minha casa, ali com meus amigos humanos.
Uma casa de madeira a beira de uma estrada, e uma plantação de banana ao fundo.
Um pouco antissocial, não fazia questão de conviver com os cachorros.
Meus objetivos e instintos eram outros, apesar de morar na casa e me alimentar também.
Não fazia muita questão de ter contato com as pessoas e nem com seus animais de estimação.
Minhas aventuras, ou melhor meu passatempo era andar pela plantação, na mata e ali atacava as pequenas aves.
Roedores que se atreviam a entrar no meu caminho, me serviam de banquete.
Eu vivia feliz, era do meu jeito como fui feliz, nas minhas aventuras, encontrava os cachorros.
Não se importavam comigo, não me importunavam me respeitavam como membros da família.
Eu sei, está meio chato essa história.
Calma que já chego lá.
Vivi muitas aventuras felinas naquele lugar.
Numa dessas noites quentes de verão.
Voltei das minhas caçadas mais cedo.
Na antiga casa de madeira as pessoas dormiam.
O pai e a mãe, num quarto e em outro, seis crianças.
Deite-me na sala da casa, com muito sono, fechei os olhos.
Fui acordada com um barulho de alguma coisa se rastejando.
Os cachorros da casa ficavam sempre alertas.
Mas aquela coisa que se rastejava rompeu a barreira.
Fiquei alerta, e o barulho foi ficando mais próximo.
Entre os vãos da madeira observei uma língua fina.
Vi a cabeça e depois o resto do corpo.
Aquilo era uma cobra, mas o que faria dentro da casa.
Miei alto, mas ninguém ouviu.
Foi para a frente da serpente querendo dizer a ela.
Saia, aqui não é o seu lugar.
Mas aquele animal estranho não queria conversa.
Minha presença não diminui o seu ímpeto.
Que logo tentou me picar, mas desviei.
E continuou a se rastejar em direção aos quartos.
Então eu gritei, aqui não, você vai sair.
E mordi no rabo daquele bicho, senti uma picada nas costas.
Arrastei de volta para a sala.
Meus olhos ficaram turvo, tudo embaçado.
Mas eu precisava defender aquele lugar, o meu lar.
Meus movimentos não eram mais os mesmos.
Sentia o veneno correndo em minhas veias.
Meu instinto falava mais alto que a minha dor.
E mordi de novo o corpo da cobra.
E novamente ela me picou nas costas.
Mas dessa vez peguei a cabeça dela com minhas presas.
E não soltei mais, senti que se enrolava em mim.
Lutando contra o veneno que me enfraqueceu muito.
A cobra fazia muita força enrolada em meu corpo.
Mas as minhas presas penetrava cada mais naquele crânio.
Senti um pouco depois que a cobra não tinha mais força.
Foi me soltando, até que não tinha mais movimentos.
Percebi que a cobra não tinha mais vida.
Essa foi a última coisa que vi, a cobra morta.
Então eu também percebi que não consegui mais me mexer.
Tentava miar, mas não conseguia.
E naquela noite de verão, meus olhos se fecharam para sempre.
Não sei quais eram as intenções daquela cobra.
Mas, findei a carreira com a missão de proteger aquela família.
E isso eu fiz, mesmo que isso custou minha vida.
Entre os humanos esse fato foi contado.
Se tornou uma espécie de milagre.
Afinal de contas ninguém se feriu daquelas pessoas.
Já ouve casos desses animais peçonhentos invadirem casas.
E dormiam em cima do chinelo das pessoas.
Que quando acordavam e se levantavam da cama.
Ao pôr os pés no chão acontecia o acidente.
Essa é minha história.
A gatinha preta que salvou uma família.
(Claudio Alves de Oliveira)
A última noite
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