JUNTO AO RIO
LAMENTAÇÃO
Fomos levados da nossa moradia, sequestrados.
Destruíram a nossa habitação, o nosso lar.
Queimaram os muros da cidade, e tudo foi saqueado.
Nossos pertences, nossa riqueza, e muitas vidas perdidas.
E fomos levados para um lugar distante.
Um reino diferente, costumes e hábitos distintos.
Nossa liberdade foi arrancada de nós.
Fomos escravizados naquele reino.
Nossa cidade, o nosso templo, tudo foi destruído.
E agora estávamos distante de tudo.
Nossa alegria e nossa felicidade nos foram tiradas.
Levaram o nosso júbilo e o nosso resplendor.
A nossa identidade foi trocada, agora somos escravos.
E tudo o que nos restava era chorar e lamentar.
Ali não era o nosso lugar.
Aqui não é o nosso lar.
Esta não é a nossa vida.
Essa não é a nossa pátria.
Esse não é o nosso país.
Esse não é o nosso rei.
Nem esses são dignos da nossa devoção.
Nem esse objetos serve para adoração.
Nem essa música são as que nos alegram.
Todo esse lugar só nos emana tristeza.
Toda essa terra só enfatiza nosso amargor.
As belas paisagens só ativa as boas lembranças.
E tudo o que temos são lágrimas.
Saudades que nos fere e nos machuca.
A opressão nos transformou num povo amargoso.
Perdemos a esperança, deixamos de acreditar.
E naqueles rios nos sentavam-nos e lamentava-nos.
Nossos instrumentos ficavam pendurados.
Perdemos tudo, até o desejo de louvar.
A força de cantar e a alegria de tocar.
Não existia nenhuma razão e nenhum motivo.
Para que se alegrássemos sentados na beira do rio.
Nossa tristeza até comoveu os nossos opressores.
Que nos diziam para que tocássemos.
Queremos ouvir as suas melodias.
Conhecer um pouco da sua cultura, sua música.
Nos alegrem entoando um dos seus cânticos.
Cantem suas músicas para os nossos ouvidos.
Para que a nossa alma se alegre.
Mas aquelas pessoas não sentiam a nossa dor.
Eles não entendiam a nossa tristeza.
Não conseguiam ver a nossa alma dilacerada.
Nem compreendiam que música e tristeza não combinam.
Porque se tocássemos ali naquele lugar.
Só aumentaria nossa dor e amargura.
Aquele pedido estava além de um gesto.
Percebemos que queriam nos fazer esquecer.
Apagar da nossa memória a nossa terra.
Nos fazer tentar esquecer do nosso lar.
Dos momentos da nossa glória.
Do nosso auge e das nossas vitórias.
Como podíamos esquecer da nossa cidade.
Que a nossa língua se una ao paladar.
Se não confessar a nossa maior alegria.
Era de estar no nosso país, nossa cidade.
Dentro dos muros, nos palácios e no templo.
Ouvir os Salmistas, ouvir as canções.
Cantar um dos cânticos de Sião.
Olhar para o Céu com as mãos levantadas.
E Glorificar ao que VIVE para sempre.
Se isso não era felicidade, os oceanos secaram.
As lembranças do dia da assolação.
Eram tão fortes em nossos pensamentos.
Em nossas conversas em nossas lamentações.
Aquelas vozes ainda parecia tão sufocante.
“Destruam tudo, queimem os seus muros.”
“Até os seus alicerces, acabem com tudo.”
Eram palavras de destruição que não esquecemos.
Que pareciam nos assombrar naquele lugar estranho.
Só não conseguíamos ver a diferença de justiça e vingança.
Queríamos que pagassem da mesma forma.
Que fossem assolados do mesmo jeito.
Que fizessem com seus filhos o que fizeram aos nossos.
As nossas harpas penduradas nos salgueiros.
E nossas lágrimas que pareciam aumentar.
O volume de água dos rios de Babilônia.
O nosso lamento não foi ouvido.
Nem nossas preces foram atendidas.
Durante muito tempo.
Fomos deixados ali, e esquecidos.
Precisamos voltar, ali não era o nosso lugar.
Somos um povo livre, não cativos.
O cativeiro não nos serve.
Tudo o que precisávamos e de um novo recomeço.
Uma chance, uma oportunidade de voltar e recomeçar.
Reconstruir nossas vidas e o nosso lar.
Ter a nossa liberdade de volta.
Nossos sonhos são levados pela correnteza do rio.
Que não para, não entende o nosso sofrimento.
Não compreende a nossa dor.
Nem a saudade que nos mata aos poucos.
E ali ficamos sentados olhando o seu fluxo.
O sol brilhando nas suas pequenas ondulações.
Observar aquelas águas é o que tínhamos de precioso.
Parecia acender a chama da esperança.
(Claudio Alves de Oliveira)
Junto ao rio
Lamentação
Eventos ocorridos neste período
Início do cativeiro 586 a.C.
Nabucodonosor II destruiu Jerusalém e o Templo, marcando o fim do Reino de Judá e o início do período do exílio na Babilônia.
Fim do Cativeiro (538/537 a.C.):
Ciro, o rei persa, conquistou a Babilônia e, através de um decreto, permitiu que os judeus retornassem à sua terra e reconstruíssem o Templo.
Um comentário:
Excelente texto e reflexão
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